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quinta-feira, junho 28

Aceite como memória da parte que deixou em mim


"Eu queria te dizer uma porção de coisas, de uma porção de noites, ou tardes, ou manhãs, não importa a cor, é, a cor, o tempo é só uma questão de cor não é? Por isso não importa, eu queria era te dizer dessas vezes em que eu te deixava e depois saía sozinho, pensando também nas coisas que eu não ia te dizer, porque existem coisas terríveis, eu me perguntava se você era capaz de ouvir, sim, era preciso estar disponível para ouvi-las, disponível em relação a quê? Não sei, não me interrompa agora que estou quase conseguindo, disponível só, não é uma palavra bonita? Sabe, eu me perguntava até que ponto você era aquilo que eu via em você ou apenas aquilo que eu queria ver em você, eu queria saber até que ponto você não era apenas uma projeção daquilo que eu sentia, e se era assim, até quando eu conseguiria ver em você todas essas coisas que me fascinavam e que no fundo, sempre no fundo, talvez nem fossem suas, mas minhas, e pensava que amar era só conseguir ver, e desamar era não mais conseguir ver, entende? Dolorido-colorido, estou repetindo devagar para que você possa compreender, melhor(...) Eu estava dizendo, o que é mesmo que eu estava dizendo? Ah: sabe, entre duas pessoas essas coisas sempre devem ser ditas, por exemplo, eu poderia me aprofundar nisso e concluir que você não gosta de mim o suficiente, mas não aprofundando não concluo nada, fico só querendo te dizer de como eu te esperava quando a gente marcava qualquer coisa, de como eu olhava o relógio e andava de lá pra cá sem pensar definidamente e nada, mas não, não é isso, eu ainda queria chegar mais perto daquilo que está lá no centro e que um dia destes eu descobri existindo, porque eu nem supunha que existisse, acho que foi o fato de você partir que me fez descobrir tantas coisas. É fundamental que você escute todas as palavras, todas, e não fique tentando descobrir sentidos ocultos por trás do que estou dizendo, sim, eu reconheço que muitas vezes falei por metáforas, e que é chatíssimo falar por metáforas, pelo menos para quem ouve, e depois, você sabe, eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem."
 _Caio Fernando Abreu


Afinal, qual será a parte do sonho que me fechou os olhos e começou a me magnetizar para esse conto meio que sem reciprocidade afetiva?
Resta-me construir um caminho que me leve a uma estrada longe de ti, e assim encerrará com a distância o que unia meu sofrimento sobre esse amor. Ouvirá dizer depois de capotada a história, retalhos brancos de quem um dia fechara a boca para abafar um pouco a tristeza que de longe se via pelo retrovisor.

Evelyn Dias

7 comentários:

  1. Oi linda!
    Eu esquecer de você? Que história é essa?! Nunca, never, jamais!
    Ultimamente não tenho tido muito tempo para acessar por isso minha ausência. Mas esquecer de você, não esqueço não viu.

    Partidas, desligamentos, "fim"... é tudo muito doloroso quando a gente se apega, quando a gente deixa fazer parte da gente e depois vai embora assim, como que levando um pedaço nosso. Um certo sofrimento inevitável, mas que depois de um tempo nos reconstruímos.

    Um terno abraço

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  2. não tem como ler um texto escrito por caio fernando de abreu sem ficar simplismente sem fôlego me envolvo de uma certa forma em cada linha escrita.
    parabéns pelo blog , e já estou seguindo .
    se quiser siga-me também
    beijos

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  3. Por vezes é necessário abrir mão daquilo que mais queremos porque simplesmente se é amor... não deveria doer.
    CFAbreu é fantástico, sem dúvida de que escreve com alma e sentimento! Um ser sábio.
    Abraço.

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  4. Aqui encontro sempre as palavras certas, nos momentos certos. A vida é feita de escolhas, em que perdemos, ganhamos, mas o importante é nunca desistirmos de procurar a nossa felicidade, de viver com amor no coração. Um Grande Beijo :)*

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  5. Porque é necessário absorver este pesar que no peito se faz. O vento que roça demonstrando os encantos esvaindo, indo. Difícil entender, mas é preciso deixar. Mesmo que tentemos explicar ou se aprofundar no significado do que se ficou. As coisas são como são. É preciso acordar de certos sonhos para vermos o que importa.

    Beijo!

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  6. Caio Fernando, um tão bom escritor assim é difícil de não ler e de não se arrepiar!
    Vejo que gostas dele, e digo-te partilho do mesmo!
    "Eu queria.."

    beijinhos da tua nova seguidora que espera que a sigas e que a leias também,
    pensando com arte.

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