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quarta-feira, julho 27

Eu continuo insistindo nessa loucura de ser costureira. Mas se nossas linhas não fossem tão tortas, elas não teriam se cruzado.

[Tati Bernardi]


Ando na linha da saudade
Costurando ainda mais a distância
Desespero-me a cada arremate
Na ânsia de houver esperança
Entristeço-me com o corte
Que me separou da paixão
Estragando o bordado
Partindo meu coração
É como um despregar de um botão
Que começa a sentir dor
O mesmo acontece comigo
Ao perder esse amor
Continuo na linha da saudade
Que o corte fez barreira
É triste ver esse coração partido
Da anônima costureira.


Evelyn Dias

sexta-feira, julho 22

A mulher perfeita

[Foto tirada do blog da Gessy]

Nasrudin conversava com um amigo:

– Então, Mullah, nunca pensaste em casamento?

– Muito. – respondeu Nasrudin – Em minha juventude, resolvi conhecer a mulher perfeita. Atravessei o deserto, estive em Damasco e conheci uma mulher espiritualizada e linda; mas ela não sabia nada das coisas do mundo. Continuei a viagem e fui a Isfahan; lá encontrei uma mulher que conhecia o reino da matéria e do espírito, mas não era bonita. Então resolvi ir até o Cairo, onde, finalmente, jantei na casa de uma moça bonita, religiosa e conhecedora da realidade material.

– E por que não casaste com ela?

– Ah, meu companheiro! Infelizmente ela também procurava um homem perfeito.



[Paulo Coelho]

 Mais um primor que encontrei no Flaws and All

quinta-feira, julho 21

Início e fim

[Foto tirada do blog da Gessy]
- Eu te amo, disse ele.
- Ama nada, ela respondeu.
- Amo sim, juro!
- Você mal me conhece, não pode me amar.
- Não tenho culpa se já te amo em tão pouco tempo.
- Hum, sei.
- Você não acredita em mim?
- Não sei. Talvez.
- Eu te amo.
- Eu também te amo.
- Oxe! Mas, você não disse que não acreditava?
- Eu também não tenho culpa se já te amo.
- Então, tá!


Conheciam-se há pouco tempo. No máximo, quatro semanas. Foi um encontro casual, entre amigos, num bar, numa noite calma e preguiçosa de domingo. Segundo ele, interessara-se por ela desde o início, algo que ela contesta e ainda há de acreditar. Ela o achou interessante depois de alguns dias, quando conversaram algumas coisas sobre música, filmes, livros e cerveja. As amenidades simples que sempre dão um jeito de juntar duas pessoas diferentes em um único pequeno universo de cultura.

Ela gostava de beber e fumava descontroladamente. Ele bebia pouco e fumava bem menos que ela, passando a fumar mais só para acompanhá-la. Ela não se orgulhava disto. Ela gostava de passar os finais de semana em bares, boates, pubs, bebendo e se divertindo. Ele preferia ficar deitado no sofá de casa assistindo TV e namorando. Foram feitos um para o outro.

A primeira pontada de amor surgiu nela depois que estavam namorando há alguns dias. Ele enviou uma mensagem para seu celular dizendo que estava com saudades. Ela nunca havia sentido saudades dos namorados anteriores e sempre achava brega ficar dizendo que estava sentindo falta. Mas, quando viu a mensagem dele, suas pernas tremeram, seus joelhos amoleceram, seu coração deu um salto e ela suou frio um pouco. Estava apaixonada. 

Ele já tinha histórico de paixões súbitas. Era carinhoso, atencioso, caseiro. Coisas que ela não suportava. No entanto, o aceitava com a naturalidade de quem está junto há 10 anos. Eles se entendiam e, quando não concordavam em algo, um sempre fazia um sacrifício para satisfazer a vontade do outro.

Nos próximos cinco meses, o relacionamento apenas aprofundou-se. Não se desgrudavam mais. Ela já não fazia questão de sair do final de semana, havia cortado os cigarros pela metade e mal bebia. Ele, por outro lado, aprendeu a gostar mais de barzinhos e festa, fumando um pouco mais e ultrapassando os limites da bebida, de vez em quando. Estavam entrando em um tipo de equilíbrio de personalidade. Um completava o outro, em quase todas as formas. Já não conseguiam passar muito tempo separados. Metade das coisas dela já estava na casa dele e metade da vida dele já estava na casa dela. Era impossível dizer onde um terminava e o outro começava.

No sexto mês, ele não agüentou. Pediu sua mão em casamento. Ela hesitou por uns 30 segundos, para fazer charme. Mas, as lágrimas começaram a cobrir-lhe o rosto e os dois se abraçaram, ambos chorando de felicidade. Foi marcada a data e pouco tempo depois, casaram-se.

Foi um ano de lua-de-mel. Ninguém acreditava que era possível um amor como aquele. Eram companheiros, amigos, amantes, apaixonados. Haviam comprado um apartamento pequeno, mas cômodo, com uma vista bonita da cidade. Ficavam sentados na varanda abraçados todos os dias quando chegavam do trabalho.

Certo dia, ele trouxe uma garrafa de vinho para a varanda. Sentaram-se um ao lado do outro. Ele pôs seu braço ao redor do pescoço dela e beijou-lhe a bochecha com carinho. Ela aninhou-se em seus braços e beijou-lhe a boca adocicada de vinho. 

- Eu te amo, ele suspirou.
- Eu também te amo, ela respondeu.
- Ama mesmo?
- Claro que sim.
- Ainda bem.
- Ainda bem, por quê?
- Porque se não amasse, isso tudo não faria sentido.
- Tem razão. Nossas vidas seriam totalmente diferentes.
- Se não estivéssemos juntos, com certeza estaríamos longe desta cidade.
- Eu estaria na Inglaterra estudando literatura.
- Eu estaria nos Estados Unidos estudando negócios.
- Eu não seria escrava do meu trabalho.
- E eu não teria levar roupa para a lavanderia todo dia.
- Acho que eu estaria ganhando bastante dinheiro como crítica e escritora. 
- Provavelmente, eu já teria minha empresa, bem encaminhada.
- Será que seríamos felizes?
- Não sei. Creio que sim.
- Mais do que somos hoje?
- Não sei. O quão feliz somos?
- Não sei. Pelo menos, moderadamente felizes, não acha?
- É, moderadamente. Será que chega a isso tudo?
- Talvez, então, felizes o suficiente para ficarmos juntos.
- E será que vale a pena ficar juntos apenas para sermos: “suficiente felizes”?
- Não sei. Sei que é tudo culpa do amor.
- Maldito amor, estragando a vida de pessoas que poderiam ser extremamente felizes, em vez de apenas felizes o suficiente.
- Pois é. Maldito amor.
- Você me ama mesmo?
- Não sei mais o que pensar. E você?
- Também não sei.
- Eu acho que precisamos decidir isso.
- Eu não te amo.
- Eu também não.



Eu li este texto no blog da Gessy Flaws and all e eu achei estupendo!

quarta-feira, julho 20

Me explica, que às vezes eu tenho medo.




De onde vem essa iluminação que chamam de amor, e logo depois se contorce, se enleia, se turva toda e ofusca e apaga e acende feito um fio de contato defeituoso, sem nunca voltar àquela primeira iluminação?


Caio F. Abreu

Caminhe... sempre com paciência.



Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais - por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.Eu prefiro viver a ilusão do quase, quando estou "quase" certa que desistindo naquele momento vou levar comigo uma coisa bonita. Quando eu "quase" tenho certeza que insistir naquilo vai me fazer sofrer, que insistir em algo ou alguém pode não terminar da melhor maneira, que pode não ser do jeito que eu queria que fosse, eu jogo tudo pro alto, sem arrependimentos futuros! Eu prefiro viver com a incerteza de poder ter dado certo, que com a certeza de ter acabado em dor. Talvez loucura, medo, eu diria covardia, loucura quem sabe!

[Caio F. Abreu]

E eu, finalmente, deixei de ter pena de mim por estar sem você e passei a ter pena de você por estar sem mim. Coitado."
[Tati Bernardi]

Cheguei a acreditar que seria bonito, mas as coisas bonitas já não acontecem mais.



Eu quis tanto ser a tua paz, quis tanto que você fosse o meu encontro. Quis tanto dar, tanto receber. Quis precisar, sem exigências. E sem solicitações, aceitar o que me era dado. Sem ir além, compreende? Não queria pedir mais do que você tinha, assim como eu não daria mais do que dispunha, por limitação humana. Mas o que tinha, era seu. 
[Caio F. Abreu]


... Mas a sua frívola rejeição foi capaz de destruir de uma forma tão natural, que não doeu por ver tudo acabado, doeu ver a maneira a qual tudo acabou.

Evelyn Dias

Dia do amigo


"Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril"

[Fernando Pessoa]


Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me. Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam. Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo. Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles. Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver. E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase : 'Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus !' Aí, então derrame uma lágrima. Eu não estarei presente para enxuga-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar. E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu. Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele. E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele. Você acredita nessas coisas ? Sim??? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito. Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo. Eu não vou estranhar o céu . . . Sabe porque ? Porque... Ser seu amigo já é um pedaço dele !

[Vinícius de Moraes]

terça-feira, julho 19

Indiferença

[Foto tirada do blog da Lia Araújo]

"Guardo pra te dar...
   as cartas que eu não mando."
      os encontros que eu não tive
        os beijos que eu não te dei.


  Mas quero que saiba que todo esse tempo
                  eu continuei te amando... guardando... esperando...


             O amor que não me deu.


Evelyn Dias

Versos de amor



Esses versos que escrevo de um amor
Com carinho feitos pra te emocionar
Num tormento que impregno a minha dor
Que é outra que seus lábios vão beijar

Descrevo em cada linha o que eu sinto
Quando perco sozinha a te imaginar
A pensar cada detalhe que te traço

É verdade o que eu digo, eu não minto
Quando me perco diante do seu olhar
Esperando encontrá-lo num abraço

Essa loucura de amar-te em pensamento
Contradiz minha paixão desesperada
Que aos poucos destrói eu amada
De sonhos loucos jogados contra o vento.

Esse poema foi tirado do meu Recanto das Letras escrito no dia 10 de março de 2011

Evelyn Dias

domingo, julho 17

A espera eterna de mim mesma na versão que faz dar certo

[Tati Bernardi]


 "A felicidade entrou com o pé na porta e sentou ao meu lado. Eu não estava mais sozinha esperando o espéculo. O trânsito todo parado e ela acena no carro ao lado, depois morre de vergonha e toma bronca do pai para sentar direito na cadeirinha. O dia meio cinzento, vai-não-vai e de repente ela surge amarela e esquenta a vida. Ela mora numa gaveta cheia de bobeirinhas lá em casa. Ela toma banho comigo quando a água leva embora coisa ruim e renova a alma e dorme ao meu lado quando eu descanso...“



[Foto tirada do blog da Lia Araújo]


"Tô me afastando de tudo que me atrasa, me engana, me segura e me retém. Fui ser feliz, e não volto!"


Caio F. Abreu

De novo, de novo, eu não canso. De novo fazendo romance em cima de um conto breve.

[Tati Bernardi]

[Foto tirada do blog da Lia Araújo]

A verdade é que eu não sei por onde anda aquela foto. Aquela tirada ao acaso numa manhã qualquer e que por um equívoco aparentava ter ficado boa. Teria ele guardado? O tempo foi passando, e que sentido faria guardá-la na gaveta de forma esquecida, mofando com o passado e envelhecendo aos poucos junto com o amor que, embora não sei se ainda existe ajuda a relembrar pedaços de uma história que se esvaiu no tempo, admitindo a necessidade de ter algo que possa recordar, confirmando a possibilidade de vir a me esquecer.


[Foto tirada do blog da Lia Araújo]

Do contrário, eu continuo aqui. A mesma de sempre...

Você pode dizer que me quer e vim.
Pode apenas olhar nos meus olhos tentando dizer que não é agora e nunca chegar.
Mas não me faça promessas...
"Promessas criam expectativas e expectativas borram maquiagens e comprimem estômagos.
Afinal, eu não preciso de você nem pra andar e nem pra ser feliz... Mas como seria bom andar e ser feliz ao seu lado!"


Evelyn Dias

Escrevo aqui no presente para que no futuro seus olhos possam lembrar de mim, quando sua mente me esquecer.

[Bob Marley]

Eu não lembrava mais. Por muito tempo não lembrei. Mas hoje não sei por qual sensação ou anseio, algo me fez lembrar e por um momento eu me esqueci de te esquecer. Fiquei com vontade de saber como estava, se tudo estava bem, apesar das notícias que chegam manchetes que eu preferi não acreditar. E com uma espécie de saudade momentânea, porque prometi ao meu coração que ele não se enganaria outra vez, propus a navegar no passado rememorando algo que um dia me fez feliz. E como essas voltas ao tempo sempre trazem alguma conseqüência, eu via tudo lindo e até pensava na possibilidade de tê-lo novamente ao meu lado. Eu fiquei completamente fora de mim, como podia está te amando outra vez? Aquele estado completamente sem ação, cheio de desejos. Penetravam dentro de mim uma vontade imensa de ouvir a sua voz. E como já conhece esse meu jeito atrevido, não foi muito difícil ligar pra você.




O que me encantou foi que eu não sabia que era seu aniversário. Acredito que também não esperava por meu telefonema. Afinal, nem soube quem era. Será que imaginou que podia ser eu? Sua primeira namorada... Receio que não, o tempo passou, surgiu novas responsabilidades, novos relacionamentos e pessoas mais importantes para serem lembradas. Que delírio poderia fazê-lo pensar em mim? Esse segredo eu não conheço. Até porque acabei de quebrar um trato que há muito tempo fiz com meu coração. E mesmo com tantos motivos pra não tocar nesse assunto, eu ainda acho tempo pra dedicar-me a você.




Feliz Aniversário! Que seja doce!

Evelyn Dias

sexta-feira, julho 1

Uma conversa séria... pela metade

Andei pensando em mudar o nome do blog, sei lá... mas parece que não tá combinando mais. "Uma garota solitária a procura de alguém pra amar" anda sofrendo muito, e essa procura tá causando muita dor. A solidão fica como um tipo de necessidade que não tá fazendo bem pra mim. Essa pode não ser a melhor forma de recomeçar, mas sinto que esperar que alguém me procure será a melhor maneira de encontrar quem eu tanto preciso. Receio que mesmo não vindo do jeito que eu quero e montei, mas trazendo-me de volta o que perdi. E com cada minucioso pedacinho de amor, que cairá por aqui, me erguerá quem realmente pode me fazer feliz. É uma nova etapa, porque depois do outono sempre vem a primavera. 



"Piece of me"